segunda-feira, 27 de agosto de 2007

Pra começar...

“Tudo no mundo começou com um sim. Uma molécula disse sim a outra molécula e nasceu a vida. Mas antes da pré-história havia a pré-história da pré-história e havia o nunca e havia o sim. Sempre houve. Não sei o que, mas sei que o universo jamais começou.” (Clarice Lispector)

(Comecei com Clarice Lispector... isso já diz muito do que eu penso. Sabe quando você lê alguma coisa escrita antes de você nascer e jura que você poderia ter escrito aquilo? Já senti isso várias vezes lendo Clarice. Li ‘A Hora da Estrela’ – de onde tirei a citação acima – no colégio, para prestar vestibular. Li em um dia. Me apaixonei pela autora e pela personagem. A Clarice consegue escrever de um jeito desorganizado que parece ser a única forma de verbalizar um pensamento ou algo que se sente sem ter que adequá-lo a linguagem e assim tirar dele o que é mais essencial. Eu penso e sinto muito, mas às vezes, quando vem para o concreto o principal se perde, e o que era belo, perde a graça, fica pesado, oco e opaco. O que a gente sente tem mais sabor de transparente, flui e é molhado... é puro conteúdo sem forma. Pra mim o que ela escreve é assim: conteúdo sem forma...)

Comecei com o título: pra começar... Bom, então já comecei. Mas comecei antes de começar. Comecei quando aceitei registrar algumas coisas aqui. Compartilhar com os outros um pouco do que eu penso, vivo e sinto. Ás vezes eu penso: ‘ninguém nunca vai ler isso. Quem se interessaria em ler o que estou escrevendo?’ Mas mesmo assim resolvi escrever, porque eu sei que eu vou ler hoje e daqui a muito tempo vou reler. Hoje, quem vai ler é a mesma que escreve, a que reler o que foi escrito, no entanto, será outra completamente diferente de mim.

Assumo: é para ela que escrevo, para ela que relerá estes textos quando sentir saudade de mim ou quando já tiver me esquecido. O segredo que guardo, guardo dela, e ela só pode desvendar sozinha, por isso é que jamais eu o escreveria aqui.

Já não estou mais no começo. Difícil se ater a ele, porque ele dura muito pouco. Adoro começos... me entristeço porque eles terminam rápido demais. Geralmente é nessas horas – pós-começo – que fujo, depois eu volto, obviamente, para começar de novo. Eu já comecei tanta coisa, tantas vezes, mas poucas vezes eu fui até o fim. Na verdade, é porque não acredito em finais. Se ‘o universo jamais começou’, quem garante que ele vai acabar?

Fique claro que estou falando do universo e não de mim. Eu vou acabar um dia, certeza. Você também, certeza. Mas o universo, ninguém garante. Se antes do sim havia a pré-história, depois do último sim – ou talvez do primeiro não – haverá o posfácio, as reticências, a pós-história – se é que isso existe – ou, ao menos, uma boa história pra contar...

Um comentário:

Maria Elisa disse...

Aquele seu segredo...
é feito de alegria,
é cheio de magia,
é tingido de medo?

É caixa transparente
que a gente vislumbra
dentro da penumbra
que engendra a semente?

É frágil como a dor,
bonito como a lua,
livre como a rua,
e belo como o amor?

É forte como a fé
plantada num rochedo?
É grande como o amor?
É assim o seu segredo?