segunda-feira, 7 de julho de 2008

Fluência

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Não há nada que epigrafe este meu sonho.
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Estava em muitos espaços ao mesmo tempo.
Eu era a água, sem forma, em um estado líquido, sem cheiro, gosto ou cor. Eu era água e matava sedes. Vinham todos beber de mim e eu me oferecia; me espalhava e não tinha limites. Eu não era mar, oceano; eu era fio de água, água que caiu por acaso no chão, que escorre, que se multiplica, que se encolhe para caber em cada pequeno vão e chegar ao mais baixo, ao mais fundo, ao fim. Água que sem saber aonde vai, segue a gravidade: suave, leve, molhada.
Desperta, eu quis saber de mim. Para onde iria eu, se todos os lugares me chamavam?
Senti o peso das minhas pernas que não aceitam bifurcações.
Senti o impulso travado dos dois braços - um direito e outro esquerdo - ligados a um tronco só. Um tronco cheio de intestinos, estômagos, fígados e rins.
Um tronco com dois pulmões e um coração.
Senti meus olhos pesados. Dois olhos estrábicos neste rosto que só se vira em uma direção.
Tudo me vinha em dois: cheiros, sons e cores; e só uma voz podia sair de mim.
Meu coração bateu pendendo à esquerda. Meus pulmões respiraram em uníssono. E a cabeça? Sonolenta, tinha que dar conta de um corpo todo direito e esquerdo. Logo ela, que era tão centrada!
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3 comentários:

-d.c.- disse...

uma possível epígrafe:
"vi-me afastada do centro de alguma coisa que não sei dar nome."
(hilda hilst)

:,

d.

Raquel Zanelatto disse...

Boa!
Lembrei-me também de:
"Todo homem é uno quanto ao corpo, mas não quanto à alma."
(herman hesse)

Unknown disse...

Hum... Será q eu sei o que era isso tudo que tanto devidia seu corpo e te tirava do centro? Se não me falhe a memória e for isso mesmo... Acho q sei... Mas tb pode não ser, neh? rs...
Bjus...