segunda-feira, 16 de junho de 2008

Felicidade

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"Ser feliz é poder tomar consciência de si mesmo sem susto."
(W. Benjamin)
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No meio do caminho entre o centro da cidade e a privacidade do meu quarto eu tenho me dado conta de mim. Sozinha no carro, parada no trânsito ou em trânsito na estrada, com o rádio ligado me inundando de MPB, eu me fecho (portas e vidros sempre fechados, seguindo a recomendação repetida da minha mãe) para balanço.
E eu me balanço, me pondero, me percebo... e quase sempre dou risada, ou canto alto, ou digo algo como: ai, ai, ai... Sozinha, sou obrigada a conversar comigo, eu que detesto parar de falar. Quando eu me chamo, chamo uma outra: a rachel... Grandes amigos me chamam assim. Meu nome em outra língua, mas ainda assim meu nome.
Quando eu chamo a rachel, ou quando eu refaço caminhos, eu me encontro e posso me avaliar. Tenho tirado boas notas. Sou nerds até na vida.
Mas de vez em quando eu ainda me assusto, mas não é mais aquele susto de quem abriu uma porta e deu de cara com um desconhecido: "Quem é você?" ou "Eu não sabia que você estava aí!!!". Eu levo aquele susto que as crianças dão na gente quando estão crescendo. É o susto acompanhado de um sorriso, o susto que a gente leva quando abre a porta e atrás dela tem uma festa-surpresa.
Tem uma festa-surpresa dentro de mim...
Será que se eu me assusto assim alegre é porque não sou feliz? Não me importa!
Eu não quero essa felicidade sem susto. É essa capacidade de se assustar - comigo mesma - que me faz feliz. Porque não é susto de medo - Benjamin tem razão: quem se assusta com o espelho deve mesmo estar feio! - é susto de surpresa, de "essa rachel, não tem jeito...sempre apronta...ai, ai, ai..." para se dizer balançando a cabeça, com sorriso nos lábios e com a certeza de que cada vez é mais gostoso ver seus olhos no retrovisor.
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2 comentários:

-d.c.- disse...

seu pé no chinelo: conforto;
seu pé no sapato apertado: desespero;
seu pé após o aperto: prazer;

sempre há possibilidade para mais...

(não estar feliz é estar triste?)

-seu sorriso sempre se dilata no horizonte, acompanhado de quatro estrelas da manhã e um sussurro confessional-

Raquel Zanelatto disse...

essas quatro estrelas...

Não estar feliz pode ser estar triste, mas não necessariamente, a felicidade contém um pouco de tristeza, e às vezes é justamente ela que está em falta... Eu não me surpreendo mais com as contradições...